12 May
12May

Os genes humanos, de animais e plantas, são considerados o código da vida. Eles são segmentos de Ácido Desoxirribonucleico, o famoso DNA, uma molécula que armazena as informações genéticas de todos os seres vivos. O DNA estabelece algumas funções do organismo e determina suas características individuais.

Relacionado às características hereditárias de um indivíduo, cuja transmissão se dá de pais para filhos, elas determinam as suas características físicas e biológicas. O estudo dos genes é importante na medicina, para que algumas predisposições a doenças sejam descobertas, além de outras aplicações.

Em 2003, o mundo presenciou uma descoberta revolucionária. Com o término do sequenciamento genético humano, várias portas foram abertas. Com esse conhecimento poderoso, foi possível o desenvolvimento da medicina de precisão, que utiliza a análise de dados genéticos para descobrir doenças e tratá-las.

O tratamento de doenças, terapias customizadas, diagnósticos precoces, e estratégias de prevenção, passaram a considerar as singularidades genéticas de cada indivíduo. O avanço é significativo, o futuro promissor, mas essa revolução genômica não seria possível sem estudos e pesquisas do passado.         

História dos genes humanos

Os estudos relacionados ao genoma humano tem mais de cem anos. Ao longo do tempo muitas questões foram descobertas e obteve-se avanços significativos. Houve uma colaboração internacional para que se pudesse entender melhor como o código da vida realmente funciona, até chegar ao conhecimento atual. 

O início de tudo (Séc. XIX e XX)

1865: O pai da genética, Gregor Mendel publicou pela primeira vez um trabalho relacionado às leis da hereditariedade. Na época não houve um reconhecimento pleno de suas descobertas, mas depois se tornou um dos pilares para o início dos estudos da genealogia. 

1869: Friedrich Miescher isolou o DNA do núcleo das células, e as chama de “nucleína”.

1902: Archibald Garrod verifica que a rara doença alcaptonúria é hereditária, seguindo as leis de Mendel, ou seja, que há uma relação entre genes e doenças.

1909: Wilhelm Johannsen cria o termo “gene”, que descreve detalhadamente a unidade primordial da hereditariedade. Ele também trata da constituição genética de um organismo (genótipo) e características observáveis (fenótipo).

Século XX: Thomas Hunt Morgan prova que os genes se localizam nos cromossomos, ao estudar as moscas-das-frutas.

Biologia Molecular

1944: Oswald Avery, Colin MacLeod and Maclyn McArty em suas pesquisas, atestam que o material genético é composto pelo DNA e não pelas proteínas. .

1953: James Watson e Francis Crick, utilizando dados das pesquisas de Rosalind Franklin e Maurice Wilkins, descobrem a estrutura de dupla hélice do DNA. Entende-se então como a informação genética é armazenada e replicada.

1960: Consegue-se decifrar o código genético, mostrando a maneira como a sequência de nucleotídeos do DNA é traduzida na sequência de aminoácidos nas proteínas.

Era Genômica (Séc. XX e XXI) 

Anos 80 e 90: A criação de técnicas de sequenciamento de DNA e de mapeamento genético traz inúmeras aplicações. Cientistas passam a explorar o genoma humano com detalhes nunca antes visto. Há uma tentativa inicial de mapear os genes com marcadores genéticos em busca de determinar a localização relativa dos genes nos cromossomos, um importante passo para novas descobertas. 

1990: O Projeto Genoma Humano (PHG) é lançado, com o objetivo de sequenciar todo o genoma humano, e identificar os genes.

2003: O trabalho fica pronto, há o anúncio de que a sequência completa do genoma humano foi identificada. O PHG apresentou um mapa com detalhes sobre todos os genes humanos. A pesquisa genômica se tornou possível.

Atualidade: Desde 2003 os avanços na tecnologia tem facilitado o sequenciamento do DNA, tornando-o mais ágil e rápido. Os custos também caíram, a pesquisa em setores como genética de doenças, medicina personalizada, e a evolução humana tiveram um importante incremento. Em 2022 anunciou-se a busca pela sequência completa e sem lacunas do genoma humano.

Genes e características humanas

Com as pesquisas realizadas, provou-se  que os genes são os responsáveis pelas unidades básicas da hereditariedade. De fato, eles possuem as instruções para a produção de proteínas, que desempenham várias funções corporais. As proteínas influenciam o desenvolvimento e as características do corpo humano. 

Os genes são compostos pelo DNA e trazem consigo as informações específicas na sequência dos nucleotídeos, que codificam a ordem dos aminoácidos que formam a proteína. Quando há a expressão gênica (ativação de um gene), a informação do DNA é transcrita para uma molécula de RNA mensageiro (mRNA). Ele se move para os ribossomos, e a informação é traduzida para a sequência de aminoácidos de uma proteína.

As proteínas possuem diversas funções, elas atuam como enzimas no corpo, catalizantes de reações químicas, hormônios que sinalizam entre as células, componentes estruturais importantes como o colágeno, anticorpos que combatem infecções, entre outros.

Desse modo, essas proteínas exercem  uma grande influência nas características humanas .Podemos citar as características físicas, como a cor dos olhos, a altura, o tipo sanguíneo, a cor do cabelo, etc. As funções fisiológicas como a capacidade de digerir lactose, predisposições a doenças, e o metabolismo também são afetados.

Outras influências

O comportamento e a personalidade também são influenciados pelos genes. Há uma interação entre eles e o ambiente, podendo inspirar a extroversão e o neuroticismo, por exemplo, e a predisposição a certas atitudes. Vale ressaltar que as características humanas não são determinadas por apenas um gene.

Há uma interação bastante complexa de fatores ambientais e múltiplos genes. A altura, por exemplo, é influenciada por genes e pela nutrição, principalmente na infância e adolescência. A predisposição a uma doença pode não se manifestar devido ao estilo de vida da pessoa, e fatores ambientais.

As características humanas são diversificadas devido a variações na sequência de DNA dos indivíduos. Elas levam a versões diferenciadas de proteínas, levando a variados tipos de fenótipos. Os genes são um grupo de instruções que norteiam a produção de proteínas, determinando as características físicas, biológicas e comportamentais de uma pessoa. 

Ancestralidade

A princípio, a revolução genômica mudou a maneira como a população pode investigar sua ancestralidade. Anteriormente era preciso acessar registros históricos, árvores genealógicas, e tradições orais. Com a inovação estabelecida pela análise de DNA, é possível descobrir conexões genéticas, conhecendo melhor as histórias familiares de um modo antes inimaginável.

Os testes de DNA estão mais baratos e acessíveis a toda a população. As empresas do setor oferecem a seus clientes a exploração de sua ancestralidade, através, por exemplo, de uma pequena amostra de saliva. Portanto, pode-se obter dados sobre suas origens étnicas e encontrar parentes em todo o planeta.

Através do mapeamento de halogrupos, pode-se analisar o DNA mitocondrial (mtDNA) transmitido da mãe para o filho, e do cromossomo Y (Y-DNA) transmitido de pai para filho. Então rastreia-se as duas linhagens, mesmo ao longo de milhares de anos. Dessa maneira, sabe-se a jornada ancestral de nossos antepassados.

Com os testes de DNA autossômicos, pode-se estimar as origens étnicas, com as análises do genoma, e a comparação com o DNA de indivíduos de todo o mundo. Sendo assim, sabe-se as origens geográficas e étnicas detalhadas. As empresas possuem bancos de dados genéticos, podendo-se descobrir familiares distantes.

Testes de ancestralidade

Com essas informações genéticas em mãos, é possível reconstruir as árvores genealógicas, corrigi-las, ou expandi-las. Pode-se estudar as populações e suas migrações. Os dados genômicos de indivíduos auxiliam os cientistas a ter um maior entendimento sobre a história da humanidade, os padrões de migração, etc.

Existem vários tipos de testes de DNA para a ancestralidade. Podemos citar como exemplo, o DNA Autossômico (atDNA), que analisa os 22 pares de cromossomos não sexuais e o cromossomo X. O DNA Mitocondrial (mtDNA) faz uma análise detalhada do DNA nas mitocôndrias, herdadas da mãe. O DNA do cromossomo Y (y-DNA) rastreia a linhagem paterna direta.        

Revolução Genômica e Medicina de Precisão

O PGH em 2003 mostrou ao mundo o complexo código genético que define a espécie humana. Com as descobertas da época, houve uma revolução genômica sem precedentes, o que levou a humanidade a uma nova era, a da medicina de precisão. O sequenciamento genômico e a análise de dados auxilia no tratamento de doenças, terapias personalizadas, diagnósticos precoces, e muito mais.

As variações genéticas das pessoas possuem um papel importante na suscetibilidade de doenças, na progressão de enfermidades, e na resposta a tratamentos. A medicina de precisão entra em ação, utilizando dados genéticos moleculares, clínicos e de estilo de vida, classificando os pacientes e estabelecendo intervenções terapêuticas particulares.

Houve uma grande inovação tecnológica como consequência do sequenciamento do genoma humano. Há uma nova geração dos métodos outrora utilizados. É possível analisar o genoma completo em dias, horas, a um custo reduzido. Houve um aumento na compreensão das bases moleculares de várias doenças. 

Essa compreensão se dá a diversas doenças, como as cardiovasculares, o câncer, distúrbios neurológicos e raras enfermidades. A revolução genômica influencia diretamente no diagnóstico, identificando predisposições genéticas a doenças, revelando riscos maiores de câncer de mama e ovário, doenças cardíacas, e neurodegenerativas como o Alzheimer, etc.

Esperança de um nova vida

Com essas informações em mãos e o auxílio do médico, o indivíduo pode adotar novos hábitos, medidas preventivas personalizadas, e até mesmo intervenções terapêuticas profiláticas. Há uma maior esperança no tratamento, com um grande potencial de alterar a trajetória de uma determinada doença.

A predição de um diagnóstico não é a única possibilidade da medicina de precisão. Ela também auxilia em casos de doenças estabelecidas. Podemos citar a oncologia, onde o sequenciamento de tumores mostra o perfil genético específico das células cancerosas de um paciente, direcionando terapias com drogas específicas.

Em relação a farmacogenômica, há uma investigação de como as variações genéticas de uma pessoa influenciam na resposta a medicamentos, se terá efeitos colaterais, ou se há uma necessidade de ajuste na dose aplicada. Os médicos então prescrevem remédios seguros e eficazes, evitando, portanto, reações adversas.

As doenças raras, das quais muitas têm origem genética, a medicina de precisão pode ser uma esperança para o paciente, principalmente em questões como um diagnóstico lento. O sequenciamento do exoma, onde é codificada a proteína, abre caminho para terapias inovadoras, e novas abordagens terapêuticas.

Revolução e Superação           

Mesmo com o avanço proporcionado pela revolução genômica, e da medicina de precisão, há muito o que fazer, para que toda a população seja beneficiada. É preciso que se utilize da bioinformática para ser possível interpretar uma grande quantidade de informações genômicas e integrá-las com dados clínicos.

Em vários centros de pesquisas e assistências médicas no mundo, a inclusão da genômica na prática clínica tem aumentado nos últimos tempos. As iniciativas em pesquisas genômicas, a formação de profissionais especializados, os testes genéticos em setores específicos da medicina, são passos importantes.

Deve haver um maior investimento em pesquisa, infraestrutura, educação e políticas públicas. A revolução genômica altera o modo como entendemos, diagnosticamos e tratamos doenças. O código genético individual abre caminho para uma medicina personalizada, melhorando a saúde e o bem-estar dos pacientes.  

O que o futuro nos aguarda

A revolução genômica e a medicina de precisão possuem um futuro bastante promissor, com inúmeros benefícios para a população mundial. Haverá uma transformação exponencial no setor de saúde, com avanços significativos. O diagnóstico será mais rápido e preciso, com o sequenciamento genômico.

Da mesma maneira, a medicina preditiva através do desenvolvimento de escores de risco poligênico mais avançados, tornará possível uma maior precisão nos diagnósticos de doenças complexas, como as cardíacas, diabetes e alguns tipos de cânceres, um monitoramento direcionado e a inclusão de fármacos preventivos.

O rastreamento genômico populacional em larga escala permitirá identificar pessoas que possuem risco a determinadas predisposições genéticas. Isso possibilitará intervenções precoces, prevenindo o desenvolvimento da doença e sua gravidade. Com terapias direcionadas, o tratamento será personalizado.

A farmacogenômica trará grandes inovações, os testes genéticos rotineiros irão prever como os pacientes respondem aos medicamentos, e o médico poderá escolher o ideal, de acordo com as necessidades individuais. A eficácia dos medicamentos será otimizada, aumentando a segurança de sua utilização.

Outras inovações

A medicina de precisão para doenças raras, já colhe o benefício de utilizar a genômica na detecção das mesmas. No futuro, há a esperança de que o desenvolvimento de terapias personalizadas se torne cada vez mais comum, influenciando inclusive em tratamentos que atualmente não se mostram eficazes.

Sendo assim, as novas abordagens terapêuticas, como a edição genética, utilizando a tecnologia CRISPR-Cas9, podem corrigir de uma maneira direta, mutações genéticas, que causam diversas enfermidades. Essa evolução ainda está dando seus primeiros passos, com desafios éticos a serem discutidos, mas o futuro é promissor.    

Tecnologia a serviço da medicina

Com a integração de dados e a Inteligência artificial (IA), haverá um avanço na bioinformática. Com o aumento das capacidade de se analisar informações genômicas e clínicas, além do estilo de vida, utilizando o chamado Big Data, se dará um importante passo na identificação de padrões complexos, e obter insights precisos, utilizados na medicina. Isso com a ajuda de ferramentas como a IA. 

Os médicos poderão acessar facilmente as informações mais importantes dos pacientes para que tome decisões clínicas personalizadas, utilizando prontuários eletrônicos integrados. O sequenciamento genômico rápido e a análise em nuvem serão realizados em clínicas, unidades de terapia neonatal e oncologia. 

Problemas a serem superados

Apesar desse cenário promissor, há muito a ser feito e é preciso enfrentar alguns problemas que possam surgir. A revolução genômica e a medicina de precisão ainda esbarram no custo do sequenciamento genômico, e das terapias personalizadas. É preciso democratizar o acesso a essas tecnologias.

Para que se possa interpretar a vasta quantidade de dados genômicos, é necessário que haja profissionais gabaritados e que se desenvolvam ferramentas eficientes. A privacidade e segurança das informações genéticas dos pacientes, devem ser preservadas, para garantir a ética e a confiança dos mesmos.

Deve-se observar que é preciso haver marcos regulatórios adaptáveis e claros, para que o uso de novas tecnologias e terapias genômicas sejam seguras e eficazes. Além disso, os benefícios da medicina devem alcançar a todos, independente da localização geográfica ou da condição social do paciente.

É necessário que se considere a complexidade biológica, a interação entre os genes, o ambiente, o estilo de vida, e como eles influenciam na saúde e na doença. O futuro da revolução genômica e da medicina de precisão é promitente, e pode trazer uma grande transformação na sociedade.

Desafios éticos e perigos da revolução genômica 

A revolução genômica, fomentada pela tecnologia, como o CRISP-Cas9, possui um extraordinário potencial para alterar profundamente a medicina e a biotecnologia. Mesmo assim, é preciso que desafios éticos e possíveis perigos sejam analisados com cuidado, que sejam discutidos e que haja uma regulamentação. 

Podemos citar a edição da linhagem germinal, a alteração do DNA de embriões, óvulos e espermatozóides. Essas ações levantam algumas questões éticas. Isso se deve ao fato de que essas modificações genéticas poderiam ser transmitidas para novas gerações, trazendo consequências impossíveis de serem previstas.

O aprimoramento genético com a edição genômica, para, por exemplo, aumentar a inteligência, ou obter habilidades atléticas, poderia aumentar consideravelmente as desigualdades sociais. Haveria a criação de “bebês sob medida”, levando a criação de uma organização social dividida em castas ou níveis baseados nesses fatores.

Como as terapias genéticas mais avançadas possuem um alto custo, o acesso a essas tecnologias pode não ser para todos. Apenas os mais ricos poderiam obter os benefícios da revolução genômica e medicina de precisão. Haveria uma elite genética, com uma maior marginalização de populações vulneráveis.

Outras possibilidades    

Pode acontecer de algumas intervenções genéticas não serem realizadas com o devido consentimento do paciente. Podemos citar as crianças e os participantes de pesquisas relacionadas. Deve-se compreender os riscos e benefícios da edição genética, o que exige uma maior educação sobre o tema, para que se tome as decisões de maneira autônoma.

Com a grande quantidade de dados devido à revolução genômica, questões como a privacidade e confidencialidade devem ser discutidas. Quem irá realmente acessar essas informações? Como será seu armazenamento, e proteção? Poderão elas serem utilizadas para uso indevido e discriminação?

Deve-se observar que pode haver impactos significativos na diversidade e identidade humana devido a edição genética. Ao tentar eliminar doenças genéticas, pode-se levar o mundo a outros patamares, com uma redução na aceitação da diversidade da população mundial, e de pessoas com alguma deficiência.

Perigos para o futuro

Podemos citar como algumas ameaças que a revolução genômica apresenta, o chamado Efeitos Fora do Alvo, onde a edição genômica causa alterações não intencionais no paciente, com consequências difíceis de prever. O tratamento, no final das contas, poderia trazer inúmeros problemas de saúde.

Durante uma terapia genética, algumas células do corpo humano editado, poderiam não sofrer a alteração nos genes desejada. Os resultados seriam incompletos e inconsistentes. Também haveria consequências ecológicas negativas. Ao introduzir organismos geneticamente modificados em um ambiente, o equilíbrio natural poderia ser prejudicado.

O bioterrorismo também é uma preocupação, pois as ferramentas de edição genômica poderiam ser mal utilizadas, até mesmo em armas biológicas, o que seria uma grande ameaça à segurança da população mundial. Guerras utilizando armas genômicas seria uma catástrofe, com resultados imprevisíveis.  

Além disso, como existe uma complexidade genética, os resultados podem se tornar ineficazes e inesperados, com alguns perigos para a saúde humana. De fato, há ainda muito o que se compreender sobre o genoma humano. Não se sabe muito sobre suas funções e interações, e pode haver consequências imprevisíveis e muitas vezes, danosas.

Conclusão 

A revolução genômica e a medicina de precisão possuem um potencial excepcional. Entretanto, é preciso que haja ainda muitos estudos e pesquisas, uma certa cautela e um grande debate. É necessário que se crie a regulamentação adequada para seu uso, para que a tecnologia seja utilizada com responsabilidade e equidade. Os benefícios são inúmeros, mas os riscos devem ser minimizados.

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